Mário Jorge Machado foi eleito presidente da EURATEX durante a assembleia-geral da confederação europeia da indústria têxtil e vestuário, que teve lugar hoje na capital belga. Este mandato tem a duração de dois anos e poderá ser renovado por três vezes.
A eleição de um português para liderar a EURATEX é vista, pelo presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, como um reconhecimento do trabalho desenvolvido pela indústria têxtil e vestuário nacional. “Portugal tem vindo a assumir, ao longo destes últimos anos, uma relevância grande no contexto europeu”, afirma.
O sector enfrenta atualmente uma grande transformação no Velho Continente, na sequência da implementação do Pacto Ecológico (Green Deal), e toda as leis resultantes. “Estamos num período de enormes mudanças para o sector têxtil e vestuário. Com o Green Deal e toda a legislação à sua volta, este sector vai deixar de ser pouco regulamentado para passar a ser muito regulamentado”, explica Mário Jorge Machado, pelo que considera fundamental que “a indústria tenha um papel ativo na criação destas novas regras”.
Entre as principais metas fixadas para este mandato está a transformação da indústria têxtil para um modelo de negócio assente nos três pilares ambiental, social e económico. “Estabelecemos como prioridade transformar este sector num sector mais sustentável e mais circular sem comprometer a sua competitividade”, sublinha o novo presidente da EURATEX. A inovação tecnológica é vista como essencial para este processo, com ênfase na redução das emissões de CO₂, no desenvolvimento de novas aplicações e tecnologias, e na implementação de fábricas digitais e processos produtivos otimizados. “Somos hoje dos sectores em que mais necessidade temos de que a tecnologia se desenvolva para ser aplicada ao nosso sector”, garante o também presidente da empresa Adalberto Textile Solutions, fundada em 1969, que aponta a digitalização e a robotização como áreas-chave para a evolução da ITV.
A EURATEX, como revela esta no seu Manifesto, está empenhada na promoção de uma legislação que apoie esta estratégia mais ecológica e regenerativa numa perspetiva holística. “Temos já alguns exemplos de que se não houver uma legislação que promova a circularidade, se estivermos só à espera dos consumidores para procurarem comprar produtos sustentáveis, o processo vai ser muito mais lento e vai ser de muito mais difícil implementação”, alerta.
Esta assembleia-geral, que decorreu esta manhã na sede da EURATEX, em Bruxelas, nomeou ainda Alberto Paccanelli, o anterior presidente, como presidente honorário pelos excelentes serviços prestados à confederação e também elegeu quatro membros como nova equipa da presidência: Michael Kamm (ZWILLING Gruppe, Alemanha), Barbara Cimmino (Yamamay, Itália), Grégory Marchant (UTT, França) e Ismail Kolunsag (Cross Tekstil, Turquia).
“Os últimos indicadores mostram que a indústria europeia regista taxas de crescimento inferiores às dos seus concorrentes; isto é algo que temos de inverter. Os decisores políticos têm de perceber que a indústria têxtil não pode ser uma moeda de troca nas negociações globais. Vemos o que os Estados Unidos estão a fazer para apoiar a sua indústria, e vemos o que a China está a fazer para apoiar a sua indústria. A Europa ficou para trás no apoio à sua indústria. O meu mandato na EURATEX será o de promover uma estratégia industrial eficaz e inteligente”, conclui Mário Jorge Machado, que vai acumular o novo cargo com a presidência da ATP, assumida desde 2019.